Vergonha, nojo, mitos e superstições ainda são comuns quando o assunto é o ciclo menstrual.
Mas aqui, duas mulheres incríveis, que vivem de perto esse universo, compartilham com a
gente reflexões que merecem toda nossa atenção
Em pleno ano de 2019, século XXI, a menstruação ainda é cercada de tabus. Muitos deles são
alimentados pelas próprias mulheres. Por que será que ainda é assim? Talvez isso seja um sinal
de distância da mulher até sua natureza mais íntima, mas também é algo que pode estar
ligado a equívocos e preconceitos transmitidos de geração em geração.
Seja como for, o fato é que um certo mal-estar em lidar com a menstruação faz com que
muitas mulheres mantenham “pequenos” tabus que, na verdade, revelam profunda
desconexão com o próprio corpo.
A pergunta é: como podemos derrubar essas ideias que não precisam mais ocupar nossas
mentes e nossos corpos? Bom, um primeiro passo mora na informação. Cada vez que uma
mulher recebe boas informações, que esclarecem dúvidas e vêm de pessoas que transmitem
confiança e credibilidade, um pouquinho desses equívocos desaparece. Além disso, ela se
torna mais livre para simplesmente ser quem é, por inteiro, inclusive no período menstrual.
Menstruar é natural
A gente fala muito sobre naturalizar a menstruação, ou seja, sobre vivê-la da forma mais
natural possível. Aí está uma chave incrível para todas nós!
Imagine só: em vez de ficar pensando que sangue menstrual cheira mal (mito!), ou que é
perigoso lavar os cabelos durante a menstruação (outro mito) ou, ainda, que o sexo não é a
mesma coisa (é diferente, mas também pode ser muito bom), que tal começar a pensar que é
um período especial, que traz a oportunidade de um maior autocuidado?
Esqueça a propaganda
Você já parou para pensar que desde a sua primeira menstruação, a publicidade feita para
vender os absorventes descartáveis gira em torno da ideia de praticidade? Recebemos desde
cedo muita propaganda pregando o uso dos descartáveis como algo bom, ligado à sensação de
liberdade e, sim, também de higiene. É ou não é?
“Ao longo de todos esses anos trabalhando com mulheres, sinto que uma questão ainda forte é
a do nojo do ciclo menstrual e isso, infelizmente, até hoje é muito recorrente. Para mim, isso
está ligado ao uso de absorventes descartáveis”, diz Ana Paula Silva, gestora das marcas
Ecoabs, Bebês Ecológicos e da parceria com a Bela Gil.
Para ela, que é especialista em ecologia feminina e convive de perto com o tema há muitos
anos, a experiência com o absorvente descartável (que é abafado, tem plástico e fragrâncias
sintéticas que alteram o cheiro do sangue menstrual) ajuda a alimentar essa relação de nojo
em relação ao ciclo menstrual.
“Sangue não tem mau cheiro. Sangue tem cheiro de ferro. Mas, quando ele entra em contato
com o plástico e as outras substâncias dos absorventes descartáveis acontece uma reação química que muda o odor. E isso pode alterar também a relação da mulher com a sua própria menstruação”.
Além disso, Ana Paula destaca a própria abordagem que é feita pela indústria fabricante de
absorventes. “Esses produtos foram inseridos no mercado como algo mais higiênico, mais
prático, de maior status social. Por isso, muitas mulheres entendem que lavar absorventes seria
um regresso, uma volta no tempo”, comenta.
Por outro lado, experimentar os ecoabsorventes (de pano), as calcinhas absorventes ou o
coletor menstrual pode transformar a maneira como as mulheres lidam com esse período. “É
algo totalmente diferente e só é preciso experimentar”, sugere Ana Paula.
Mergulhe fundo na sua natureza
Conversamos sobre tabus da menstruação também com a Jessica Nunes (@yogaparaoparto),
parteira domiciliar e professora de yoga, que há anos trabalha encorajando mulheres a serem
quem são, ajudando-as a entender o que a natureza de cada uma delas convida a viver.
Segundo Jessica, em círculos de mulheres é muito frequente encontrar quem sinta vergonha
de dizer que está menstruada e mesmo de estar menstruada. “É como se fosse um segredo
que ninguém pode saber, então, ela usa roupa larga, evita contar a outras pessoas e carrega
uma sensação horrível de estar errada, de estar fazendo algo errado. Você pergunta se ela
quer ir à praia, ela abaixa a cabeça e conta, toda sem jeito, que não dá porque está
menstruada”, relata.
Jessica comenta que essa sensação é algo bastante nocivo para a psique humana e que muitas
mulheres passam por isso mensalmente. Ela diz que isso tem um efeito terrível na
autoestima delas, na maneira como elas se colocam socialmente, como falam sobre si
mesmas, como se valorizam ou valorizam seus feitos. “Isso acaba afetando as relações dessas
mulheres: a relação com os maridos, os namorados, os filhos, enfim, com o outro, porque
sexualidade diz respeito à relação com o outro”, observa.
Por esse prisma, o tabu ligado à menstruação seria essa vergonha de menstruar, esse segredo
guardado, escondido. “Na verdade, essa vergonha é uma repressão que ela sofreu em algum
momento na vida, ou algo que pode ter vindo de exemplos na família, com a mãe, as tias”,
avalia.
Daí a necessidade de trabalharmos internamente para nos libertarmos dessas amarras que nos
impedem de florescer nossa essência, de lidar com tudo isso mais naturalmente. E aí, disposta
a dar um passo nessa direção hoje? Vamos conversar mais sobre isso? Comente com a gente a sua experiência
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